domingo, 24 de outubro de 2010

Metáfora




Caro leitor, cara leitora.

Imagine-se no sofá da sua casa, num domingo à noite, com a tigela de pipoca recém saída do micro-ondas (já que hoje ninguém que eu conheça faz mais pipoca no fogo) preparando-se para assistir à final do concurso de Miss Brasil.
As três finalistas disputam, além da coroa, do cetro e do manto, o posto de mulher mais bonita do país. Às que ficarem em segundo e terceiro lugares restará o consolo de um prêmio em dinheiro e o título de princesas.
Depois de muitos discursos emocionados, e muito suspense, anunciam, enfim, a terceira colocada. Louvam sua postura durante todo o evento, sua beleza e seu fair play. Em seguida vem a pausa para os comerciais. Você levanta, vai à geladeira, pega algo para beber e volta ao sofá, esperando o clímax da noite.
Antes do tão esperado veredicto, é de praxe que o apresentador encha mais um pouco de linguiça, exaltando as qualidades das duas beldades que pleiteiam o título máximo da beleza brasileira. É nessa hora que o inusitado acontece e você leva um baita susto. Não acredita no que está vendo e ouvindo.
Apesar de o sujeito que escolheram para apresentar o evento ser um profissional tarimbado, de grande credibilidade junto ao telespectador, já tendo apresentado vários concursos de beleza, para o seu espanto, resolve, sem avisar, subverter a ordem do concurso e tenta interferir diretamente na escolha dos jurados. Dirigindo-se a eles, faz comparações entre as duas candidatas e, acintosamente, cobre de elogios uma delas, enaltece sua beleza e exalta sua inteligência e simpatia, ao mesmo tempo em que, sem o menor constrangimento, aponta supostos defeitos na beleza e na postura da outra durante o concurso. Aquela cena é tão absurda que você chega a engasgar com a pipoca. Como pode um apresentador que, como o próprio nome diz, deveria apenas apresentar as finalistas, portar-se dessa maneira tão tendenciosa? Onde já se viu um profissional que tem como função mostrar o desempenho das candidatas para que o júri escolha a que considera melhor, tentar interferir dessa forma nessa decisão? Nesse ponto você está tão indignado pelo fato de que quem está apresentando o concurso, e que você imaginou isento, estar tentando usurpar do júri o direito de decidir quem é a melhor candidata, que a pipoca já travou na garganta e o refrigerante esquentou. Você quer mudar de canal, mas só aquele transmite o desfile. Revoltado, você assiste até o fim, na certeza que, se há justiça neste mundo, o júri vai saber escolher a mais bonita, sem levar em conta o surto do apresentador. Mais tarde, descobriram o motivo do descontrole. O apresentador viveu um romance de oito anos com a candidata pela qual mostrou preferência e seu objetivo era reatar com ela. Sabia que se ela ganhasse, saberia recompensá-lo por tê-la ajudado e, quem sabe reatariam por, no mínimo, mais quatro anos. O que não se faz por amor!!!!!

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Queridos leitores, este texto é uma metáfora de como me sinto lendo o jornal O Globo todos os dias da campanha presidencial. Não temos opção de leitura isenta neste país. Realmente, não há liberdade de imprensa no Brasil. Para os leitores, é claro. Por favor, libertem os jornalistas!!!!!

Yone de Carvalho Abelaira
Rio, outubro de 2010

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