terça-feira, 2 de março de 2010
DEVASSA NELES!
Pode parecer piada, mas garanto que não é. Não foi ontem, nem no mês passado. Há uns quatro anos, estava eu na sala de espera de um médico e resolvi passar o tempo lendo uma dessas revistas de fofoca sobre “celebridades”, que são colocadas lá para que a gente não note que eles estão mais de uma hora atrasados e que, provavelmente, não vai dar mais tempo de ir ao banco, de pegar filho na escola, de encontrar o namorado, muito menos de evitar levar uma bronca do chefe. As matérias da revista eram iguais as de hoje, mas o que mais me chamou a atenção foi um anúncio de página inteira de uma marca de acetona, que como todos nós sabemos, serve para tirar o esmalte das unhas que, por sua vez, ficam nas extremidades dos nossos dedos. Um doce para quem adivinhar o que continha a foto do anúncio. Uma mulher de calcinha e sutiã.
Sabemos que não é de hoje que os publicitários brasileiros, tão aclamados internacionalmente, usam a imagem da mulher de forma excessiva e equivocada. Um exemplo dessa superexposição são as bundas em calcinhas minúsculas que transitam por toda a cidade no vidro traseiro dos ônibus, anunciando clínicas de estética e depilação.
Uma prática da publicidade que também considero equivocada é o estímulo ao consumo de álcool pelos jovens (vide Ronaldo fazendo propaganda de cerveja). E aí, não é só a publicidade que pratica esse crime. O reality show mais assistido no país exibe todas as quartas e sábados, durante três meses do ano, porres homéricos dos participantes, na maioria jovens, com direito a cenas grotescas e humilhantes.
Isto posto, vamos ao que interessa. Para meu espanto, ontem, o Conar (Conselho de Autorregulação Publicitária) notificou a Schincariol em função de ações de consumidores, do próprio Conar, da Secretaria Especial de Defesa da Mulher (um órgão federal, ligado à Presidência da República) e, claro, da Cervejaria Petrópolis (Cerveja Itaipava), contra a propaganda da cerveja Devassa, protagonizada pela herdeira famosa Paris Hilton, todos incomodados com o “apelo sexual excessivo” da peça publicitária. Convenhamos que ninguém acredita que foi para zelar pelos bons costumes que as ações foram sugeridas, não é mesmo? Acho que quem está precisando de uma “devassa” é a relação do Conar com a Cervejaria Petrópolis.
Quem também está merecendo ser alvo de uma devassa total é o Poder Judiciário. Recentemente, descobriram o superfaturamento na construção do Palácio da Justiça do Distrito Federal. Hoje, outro escândalo. A Segunda Vara Federal de Mato Grosso decidiu devolver aos “donos”, acusados de tráfico internacional de drogas, uma Ferrari, que vale quase dois milhões de reais, uma Mercedes, uma BMW, uma Corvette, um Lamborghini e uma moto Ducati, todos apreendidos numa operação da Polícia Federal, no ano passado. A justificativa é que o Poder Judiciário não tem condições de conservar os veículos e que eles podem se deteriorar, pois estão em local aberto. Os “donos” se “comprometem” através de um documento, a não usar, ceder, ou vender os veículos. E a Justiça acredita! Documento assinado por suposto marginal é coisa séria, não é mesmo? E a Justiça vai fiscalizar, é claro!
Nos últimos dias algumas personalidades do setor público (Arruda) e do privado (Mara Mac) foram indiciadas por desvio de dinheiro público e por crime de sonegação, respectivamente. Duvido que paguem pelos seus crimes, pois já é costume a Polícia Federal investigar, prender e a Justiça soltar.
De todas essas situações, incluindo seus personagens, é difícil afirmar quem é pior, mas com certeza não é o comercial que mostra Paris Hilton de micro vestido preto, rebolando na janela. Desta vez, pelo menos, os publicitários conseguiram ser menos devassos que os meritíssimos, os políticos e os empresários.
Rio, 02 de março de 2010.
Yone de Carvalho Abelaira.
DEVASSA:
ADJETVO: LIBERTINO, DEGENERADO, DEPRAVADO, DESPUDORADO, IMORAL, INDECENTE, OBSCENO, PERVERTIDO, PORNOGRÁFICO, SACANA, SAFADO, SENSUAL, VOLUPTUOSO
SUBSTANTIVO: APURAÇÃO MINUCIOSA DE ATO CRIMINOSO
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