terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pode um negócio desses?


Os anos passam e imagina-se que eles venham acompanhados de evolução em todos os níveis das relações e do conhecimento humanos. Hoje, a evolução tecnológica é incontestável, mas será que podemos dizer o mesmo das relações sociais? Não, não podemos.
É fácil constatar que regredimos nesse quesito, principalmente no que se refere ao respeito pelo outro, pelas suas preferências e pela sua liberdade de escolha. Vejam três exemplos recentes dessa realidade. O primeiro é público, pois está sendo acompanhado pela mídia do mundo inteiro. É o caso da estudante que foi execrada por colegas e funcionários da Universidade Bandeirante, de São Paulo, por frequentar as aulas de mini saia. Como já postei no twitter, achei que estava num filme de ficção científica, em que o personagem dorme no seu tempo e acorda num século distante, anos atrás, e se depara com dinossauros, ou coisa parecida. É inconcebível, nos dias atuais, que sejamos obrigados a conviver com esse tipo de preconceito e essa patrulha retrógrada e reacionária. Formei-me em Jornalismo em 2004, ano em que completei 50 anos. Convivi durante quatro anos com muito mais jovens do que com pessoas da minha idade. No ambiente acadêmico, observei todo tipo de pessoas. Jovens responsáveis, irresponsáveis, interessados, desinteressados, antenados, alienados, gordos, magros, pretos, brancos, amarelos, heterossexuais, gays, católicos, evangélicos e espíritas. Nenhum deles, em momento algum, discriminou alguém por isso, muito menos pela roupa que usava. Uns tinham piercing na língua, outros tatuagem pelo corpo todo. Uns eram ricos, outros eram pobres. Uns se vestiam como executivos, outros de forma mais despojada e outros, ainda, como se tivessem acabado de sair da praia. Nenhum colega, professor, ou funcionário, se sentiu ofendido por isso. Imaginei que isso era o que acontecia em todas as universidades. Que o ambiente acadêmico era o melhor exemplo de convivência das diferenças, onde se cultiva o respeito pelas escolhas e pela liberdade do outro. Espero que não esteja totalmente errada e que o caso da Uniban seja uma exceção à regra.
O mesmo já não posso dizer da relação empresa-consumidor. Na maioria das vezes somos tratados com desconfiança, como se fôssemos caloteiros latentes, esperando uma oportunidade para dar um golpe. Vejam o que aconteceu com uma amiga, cliente, há anos, do Boticário, com cartão fidelidade e tudo. Diva, vamos chamá-la assim, costuma comprar nas lojas, mas na semana passada, por falta de tempo, fez um pedido pela Internet e pagou com cartão de crédito. O cartão aprovou a compra, mas a mercadoria não chegou no prazo estabelecido. Minha amiga ligou para o Sac e foi informada de que apesar do cartão ter aprovado a compra, havia restrições que impediam a loja de aceitar a compra. Diva perguntou, então, quais eram essas restrições, já que não tem qualquer impedimento em seu nome e costuma fazer compras de valores muito mais elevados em várias cadeias de lojas da cidade. Qual não foi sua surpresa quando a atendente informou que não poderia revelar qual era a restrição imposta pelo Boticário. Quer dizer, então, que agora você pode ser acusado de alguma coisa e não tem o direito de saber qual é? É impressão minha, ou o Boticário rasgou a Constituição? Onde está o respeito ao direito do consumidor de saber o motivo de estar sendo impedido de fazer uma compra? Que país é este? Para terminar, vamos falar de caça às bruxas. Sim, sou fumante. Uma fumante que respeita seus limites e aqueles impostos pela lei. Não fumo em local proibido. Mesmo achando que, por exmplo, cada restaurante, ou casa noturna, deveria poder escolher se o seu estabelecimento aceitaria, ou não, fumamtes. No caso dos funcionários, poderia contratar apenas colaboradores que fumassem. Habilitar-se-ia ao emprego quem quisesse. Frequentaria o lugar quem não se importasse com o cheiro do cigarro. Mesmo achando que a legislação atual é uma caça às bruxas, respeito as restrições impostas por ela. Porém, me sinto profundamente irritada quando acontece o que aconteceu ontem comigo. Depois de fumar um cigarro na fila do táxi, na rua, o motorista da vez me ajudou a colocar as compras na mala e por estar próximo a mim, provavelmente sentiu o cheiro do cigarro, que admito, é ruim. Imediatamente, me perguntou se eu fumava. Respondi que sim. Ele se calou. Questionei o porquê da pergunta e ele respondeu: por nada. É claro que era porque havia sentido o cheiro do cigarro que eu acabara de fumar. Aí eu pergunto. O que ele tem a ver com isso? O pulmão é dele? Eu fumei no carro dele? São liberdades que a maioria das pessoas se dão quando abordam um fumante. Liberdade que eu não dei. Seria o mesmo que eu chegasse para alguém que usa um perfume que eu detesto, Áqua di Gió, por exemplo, e perguntasse à criatura por que ela estava usando um perfume tão fedido!!! Pode um negócio desses?

Um comentário:

  1. Maravilhoso, Yone!
    Esse caso da estudante eu já nem consigo mais comentar, porque é muito anos 60. Coitada da garota. Você disse bem, chegamos a fazer aulas com uma menina PUNK. Lembra? A única coisa que me dava agonia nela, era o 'alargador' de orelhas, mas a orelhinha era dela e não a minha! Então eu tratava de parar de olhar aquele buracão que ela fez :)
    Sobre as leis antifumo, (e, cá entre nós que meu maior cliente é o Inca)trata-se de um verdadeiro terrorismo. As pessoas, agora, estão fumando quietinhas, como se tivessem fazendo algo de errado, quase comentendo um crime. Pode não ser lá a coisa mais saudável do mundo, mas cadê a liberdade de escolher? É o fumante que paga o cigarro dele e que o consome também. De fato, concordo com você.
    E o texto, como sempre, IMPECÁVEL e IMPAGÁVEL:)
    Beijo grande,

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