quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Tessália, Tony Blair e o Poetinha


Vinícius de Moraes, nosso "grande poetinha", deixou uma imensa, belíssima e irretocável obra, entre canções e poesias. Ontem, ouvindo a interpretação da Fernanda Abreu, fixei-me numa pequena frase da música "A Tonga da Mironga do Kabuletê". Contam os livros e enciclopédias virtuais que a expressão é um xingamento em Nagô, língua de origem africana, e que foi usada na canção como prococação aos militares, que não a censuraram por imaginarem tratar-se de palavras desconexas, sem qualquer significado. Mas não foi ela que me chamou a atenção, e sim o verso "você que entra e não cabe".

É óbvio que ninguém aqui está falando de massa corporal. Estamos falando de noção, aquela que ninguém deveria sair de casa sem. Porém, acho que ninguém é capaz de afirmar que nunca se sentiu "não cabendo" em algum lugar, ou em alguma situação. Se você tem noção, desconfiômetro, é claro que sacou logo que aquela não era a sua praia e tratou de "vazar" rapidinho, certo? Melhor que isso, com certeza já recusou um convite feito por pura educação, a fim de evitar "não caber" em determinado lugar. Pois é assim que acontece com a maioria das pessoas.

Uns mais, outros menos, todos nós temos um grau de desconfiômetro. E quem são nossos termômetros nessas ocasiões? Na maioria das vezes, nós mesmos. Em alguns casos, um amigo, um parente e, às vezes, até uma crainça, já que ela não pensam para falar e falam o que pensam.

Um exemplo recente de termômetro foi o que experimentou, ontem, a Tessália, do BBB 10. A menina entrou e, mesmo tendo não sei quantos seguidores na Internet, o povo achou que ela não cabia e defenestrou a coitada da casa, com 78 por cento dos votos.

Uma criatura que entrou e não cabe - pelo menos é assim que pensa o escritor Paulo Coelho - foi o ex primeiro-ministro britânico Tony Blair, que foi convidado pelo governador Sérgio Cabral a ser consultor do Rio de Janeiro nas Olimpíadas de 2016. Zuenir Ventura, outro grande escritor e jornalista, concorda com o nosso mago. Historicamente, eu tendo mais a concordar com os escritores, e menos com os políticos.

Enfim, não faltam exemplos de gente que entrou e não coube na vida pública e na vida de cada um de nós. E, neste caso, cabe a nós mandá-los pra "Tonga da Mironga do Kabuletê".


Yone de Carvalho Abelaira

Rio, 03 de fevereiro de 2010.

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